DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: O NOVO DESAFIO Vitor Gomes Pinto, Você sabe, mesmo, o que é Desenvolvimento Sustentável (DS)? Há muitas trilhas que podem ser seguidas para chegar à resposta. Escolha uma delas e seja feliz, é o que costumam dizer os que observam de fora o difuso movimento que surgiu por toda parte principalmente depois da Eco-92 que teve o Rio de Janeiro como palco. Devido a uma demasiada abrangência de assuntos e interesses, a "área do desenvolvimento sustentável" ao invés de englobar o mundo passou a correr o risco de transformar-se em uma imensa poltrona onde qualquer um poderia sentar-se, onde grupos e pessoas sem rumo poderiam encontrar ouvintes e companheiros. Por sua vez, os que tinham a missão de decidir quanto a prioridades para usar os escassos recursos disponíveis preferiram esperar por definições mais claras e mais precisas. Num esforço gigantesco de compreensão e de síntese, a Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 10 realizada recentemente em Joanesburgo na África do Sul, conseguiu encontrar o caminho correto ao dizer que o DS tem uma base formada por três pilares - o econômico, o social e o ambiental - e um objetivo fundamental que é a erradicação da pobreza. Há uma inequívoca sinalização, para políticos, empresários, profissionais, ativistas e para a população em geral, de que só haverá desenvolvimento sólido, permanente e adequadamente financiado (ou seja, sustentável) se os três pilares puderem ser articulados, tornando-se interdependentes. Superar a velha tradição do trabalho isolado, por segmentos, certamente não é tarefa das mais fáceis. Afinal, especialistas em meio ambiente proliferaram formando um campo próprio de interesses enquanto ecologistas de variados matizes esforçaram-se por criar uma não muito nítida onda verde de proteção, economistas continuaram ditando as cartas na política como se tudo dependesse do PIB e da taxa de inflação, defensores do "social" permaneceram restritos a suas especialidades (saúde, educação, nutrição, previdência, etc.),. Avançamos bastante nas áreas específicas mas pouco fizemos para que elas se tornassem mais solidárias. É freqüente ver os especialistas acusando-se mutuamente, com argumentos, por exemplo, de que "falta vontade política para priorizar o social", quando deveriam concentrar seus esforços no encontro e no estímulo de pontos comuns que possam levar a um relacionamentocrescente. O programa Fome Zero do novo governo é uma excelente oportunidade para que o novo conceito do DS se concretize no Brasil. A fome é a conseqüência de problemas existentes em múltiplas áreas e requer, entre outras medidas, uma reorganização da produção agrícola e dos canais de comercialização, ademais da distribuição em caráter emergencial de alimentos. O foco está correto, mesmo porque, para quem está iniciando, é mais factível equacionar grupos numericamente menores de excluídos. Há bem menos famintos no Brasil do que pessoas em estado de pobreza absoluta ou relativa. Resta o desafio de identificá-los para poder ajudá-los de maneira mais concreta e rápida, pois constituem o estrato ao mesmo tempo mais sofrido e menos visível da sociedade. Um exemplo de como o assunto deve ser tratado de ora em diante pode estar sendo dado pela indústria brasileira. Como um primeiro passo, decidiu-se fazer uma articulação entre os setores de prestação de serviços em meio ambiente, sob responsabilidade do Senai, e de saúde e segurança no trabalho que cabe ao Sesi, instituição cuja missão é em essência social. A perspectiva é de combinar essa iniciativa com as da área econômica, que se situam no âmbito da Confederação (CNI), para que os três pilares do DS possam funcionar lado a lado, o que significa planejar e executar ações em conjunto. A Declaração Política da Rio + 10 fez questão de lembrar que os desafios mais agudos permanecem sendo a pobreza, o subdesenvolvimento, a degradação ambiental e as desigualdades econômicas dentro e entre os países. No Brasil que deseja recomeçar em 2003, os seus gigantescos desafios só podem ser enfrentados e superados com alguma rapidez por uma estratégia que na prática permita criar centrais de coordenação dos esforços setoriais, livrando-se da velha mania do cada um por si e Deus por todos. (Vitor Gomes Pinto, escritor, analista internacional, coordenador de saúde do Departamento Nacional do Sesi/CNI, vitor.gp@persocom.com.br) |