Nossa história na reciclagem
Contrariando paisagistas e comerciantes, eis parte de nossa história
Devido à grande procura de informações - por parte de órgãos públicos e particulares, além de pessoas insatisfeitas com o descaso e não aproveitamento da casca de coco, porém interessadas em reciclagem de coco verde – decidimos escrever um pouco da nossa história e situação atual.
Pouquíssimos possuem os elementos necessários para compreender a complexidade de tal atividade como um todo.
Iniciei minha atividade empresarial em 1995, no Nordeste. Rapidamente, pude perceber o crescimento das lavouras de coco verde, com financiamento público e privado, principalmente do Banco do Nordeste.
Apesar de se apresentar como uma atividade de grande geração de renda para empresas de pequeno e médio porte, gerar empregos e ser fruto de grandes projetos, o futuro do mercado era desconhecido, como também suas consequências.
Em determinado momento, divulguei dados como, por exemplo, o aumento de 400% da área plantada. Mantinha atividade comercial em diversos CEASAS e tinha exata noção de que o coco plantado no Nordeste, em sua maioria, seria encaminhado para grandes centros consumidores (RJ, SP, BH, entre outros) e no verão, para praias no sul do país também. Na época, Camboriú proibiu a comercialização na orla por não ter estrutura de recolhimento do resíduo, já que precisariam se equipar para apenas 3 meses por ano.
Apesar de se apresentar como uma atividade de grande geração de renda para empresas de pequeno e médio porte, gerar empregos e ser fruto de grandes projetos, o futuro do mercado era desconhecido, como também suas consequências.
De forma despretensiosa e particular, em 1997 iniciei estudos em busca de solução para este resíduo. Pesquisei no mundo todo técnicas empregadas nas atividades onde o coco era a matéria-prima. Eis a primeira descoberta: com este volume, o coco verde só existia no Brasil e os equipamentos para processamento, só existiam para o coco maduro/seco.
Em 1999, foi fundada a empresa Coco Verde – RJ, que rapidamente se tornou a maior distribuidora de coco do Rio de Janeiro, com os seguintes diferenciais:
A essa altura, o resíduo já era triturado para diminuição do volume e destinava-se ao máximo para locais que fizessem uso, como produtores de coco em Santa Cruz e também para empresas prestadoras de serviço, como a Petroflex, que utilizava para recuperação de solos contaminados.
Após tentativa de cobrança – por parte dos prestadores de serviço – para que recebessem o resíduo, suspendemos o fornecimento do mesmo. Reciclar já não bastava, então decidimos redirecionar as pesquisas para o aproveitamento da fibra de coco, consequência da reciclagem.
A conclusão da pesquisa para o aproveitamento da fibra de coco produzida com depósito de patente veio em 2001, quando também a empresa tomou conhecimento da resolução CONAMA nº 278 de 24 de maio, que de forma radical, tornou a extração e o comércio de xaxim totalmente ilegal. Vale ressaltar que desde 1992, o xaxim já sofria grande restrição.
Com sua nova e patenteada tecnologia, a empresa passou a manufaturar artefatos diversos. No primeiro ano, tal atividade figurava no faturamento algo abaixo de 2%, já que a atividade principal era o comércio de coco e equipamentos para a venda de sua água.
A citada resolução CONAMA nº278 representava uma grande esperança de impulsionamento no mercado, visto que éramos a alternativa de todas as atividades que utilizavam o xaxim. Aqui começaram as surpresas.
Com a proibição clara de extração e comércio do xaxim, divulgávamos sua ilegalidade. Assim, passamos a ser vistos como responsáveis pelo fim de sua comercialização, e não como aliados que ofereciam uma alternativa. Talvez muita ingenuidade de nossa parte, pois acreditávamos que estaríamos contribuindo com todos que faziam uso do xaxim em suas atividades profissionais e/ou de lazer.
Instalamos e adequamos toda a linha de produção, a qual se encontra em plena operação. Para nosso porte, era considerado algo grandioso e que caso não obtivesse sucesso, nos levaria a falência (a empresa esteve tecnicamente em estado falimentar por 3 anos).
A produção esteve ativa por 1 mês e pausada por mais de 4 meses, o que nos levou ao desespero. Não somente ideias e ideologias estavam em risco, mas a sobrevivência do negócio e de seus participantes também. Na transição de abertura do mercado até sua plena sustentabilidade, a energia da fábrica foi suspensa 3 vezes por falta de pagamento, uma das maiores dificuldades enfrentadas.
Existe muito interesse em melhorar as condições do país, mas a falta de fiscalização, divulgação e até envolvimento da população, dificultam e atrasam a implementação das leis adequadas. O aumento da conscientização é visível, mas estamos em 2016 e não foi feito o suficiente desde 2002.
Suficiente ou não, de 2002 a 2006, toda a produção de artefatos de fibra de coco teve como matéria-prima a fibra do coco verde processada pela própria empresa, e deste período até final de 2007, complementávamos com fibra de coco seco.
Ao final de 2005, suspendemos a comercialização de equipamentos para a venda de coco, pois os concorrentes entraram no mercado com soluções inferiores (em termos de qualidade) e por consequência, os preços também. Oferecíamos NF, garantias e ótima qualidade, o que também nos fez deixar de comercializar o fruto coco verde, pois a exemplo dos carrinhos de água de coco, mostramos o “caminho das pedras” e era possível encontrar diversos caminhões vendendo coco nas estradas e esquinas da cidade, sem despesas burocráticas, funcionários, regularização e fiscalização.
A situação se agravou mais ainda, visto que com o fim da venda do coco, perdemos nossa matéria-prima para a reciclagem. Tal situação comprometeu diretamente na última atividade da empresa. O manufaturado estava em estágio embrionário, com baixa aceitação e produção, apresentando dificuldades para suportar a transição de atividades de forma sustentável.
Mantivemos a reciclagem de cocos vindos de envasadores que comercializavam a água congelada e resfriada, sendo assim nossos fornecedores de matéria-prima a ser processada. Para a nossa linha de artefatos, era indiferente a procedência da fibra (coco verde ou seco) e a possibilidade de ser comprada pronta, era para nós a garantia de continuidade da atividade que nos restava.
Buscamos parcerias com grandes geradores deste resíduo (municipais, estaduais e privados), mas infelizmente, todos encontraram resistências em relação ao meio ambiente para encaminhar seus resíduos.
Finalmente, em 2007, continuamos o desenvolvimento e aprimoramento da metodologia, visando retornar à atividade, de forma mais adequada e preparada.
Muitos nos perguntam porque não reciclamos de pouco em pouco. A resposta é simples: investir numa planta de reciclagem, pender da matéria-prima da qual você não tem o menor controle e depender da boa vontade dos geradores lhe enviarem ou não o resíduo do coco, é algo arriscado. Além disso, renovar equipamentos e se adequar à todas as exigências atuais e futuras sem ter a garantia do fornecimento, seria falta de responsabilidade. Quem faria tal investimento?
Partindo deste ponto de vista, faz-se necessária a regulamentação do comércio do coco verde, assim como responsabilizar alguma etapa do ciclo pelo seu resíduo. Regulamentação, sensibilização e um árduo trabalho de fiscalização se fazem necessários, pois como o xaxim, as ações demoram para acontecer. Uma nova e longa espera até que se torne real.
A Coco Verde, tendo ciência da importância de se tratar e dar destino adequado ao lixo como um todo e dos valores reais, quando o mesmo é encaminhado de forma correta, voltará a reciclar somente quando existirem contratos de fornecimento do resíduo, com garantias reais e remuneração, pois o gerador terá enorme economia. Por outro lado, é importante salientar que reciclar em área urbana é mais oneroso e a fibra do coco verde não pode ficar mais cara que a do coco seco, visto que afetaria a sustentabilidade da atividade.
Atualmente, reativamos a venda do coco verde como uma de nossas atividades, porém, nesses 10 anos de avanços tecnológicos, discussões ambientais e de fiscalização, ainda é possível encontrar vendedores clandestinos nos arredores do CEASA e principais avenidas do Rio de Janeiro, utilizando caminhões ou até mesmo o chão, para armazenamento. O que nos leva a uma questão também muito importante: saúde pública e ambiental.
Exposição, que leva a contaminação e após seu consumo - ou não - o transforma em lixo. Já mostramos por a + b que a reciclagem é o ideal, tanto para o meio ambiente, quanto para o comércio e também para a sociedade, visto que geramos emprego. Porém, a falta de interesse de órgãos públicos e privados em investir na reciclagem e fiscalização de todo o processo, desde a comercialização até a reciclagem, é um grande dificultador.
Existem aterros sanitários para o devido tratamento. Reciclar também não é uma obrigatoriedade, mas realizar o descarte em locais não autorizados e utilizar de artimanhas impróprias, torna a situação mais delicada.
Para isso, a Lei de Resíduos Sólidos nº 12.305/10, está causando impacto. O lançamento de resíduos sólidos a céu aberto ou em áreas não licenciadas, é proibido e caracteriza crime ambiental e deve ser fiscalizado com afinco. Cabe às autoridades competentes realizar tal fisco e possibilitar o tratamento adequado deste resíduo.