Fibra de coco é alternativa ecológica para
substituição do xaxim
De acordo com Philippe Jean Henri Mayer,
responsável pela gerência de projetos e negócios do
Projeto Coco Verde, ainda não se tem conhecimento de
um plano de manejo sustentável que garanta a conservação
e a preservação da samambaia-açu. "O mais curioso é
que o xaxim, um ano após sua proibição, continua a ser
comercializado livremente, inclusive pela internet",
conta.
O Projeto Coco Verde, que propõe
como "alternativa ecologicamente correta" a substituição
do xaxim pela fibra de coco, pretende difundir o uso
desta fibra em vasos, placas, estacas e também na forma
de substratos. "A idéia surgiu a partir da reciclagem
do coco verde; queríamos descobrir uma função para o
volume de lixo produzido e há três anos, o projeto faz
pesquisas sobre o uso do coco já sem a água como matéria-prima",
explica Mayer.
Reciclagem
A partir do processo de reciclagem
do coco, tem-se a chamada fibra, que é a parte que pode
ser a substituta do xaxim. O processo consiste, basicamente,
no recolhimento, armazenagem, trituração, secagem e
separação da fibra da entrefibra.
"Depois disso, é feita uma classificação dessa fibra,
que é submetida a uma secagem especial e recebe a aplicação
de vários produtos naturais. São exatamente dezoito
etapas para o trabalho da fibra. No caso do pó de coco
ou entrefibra, o produto passa por oito etapas e o resultado
é um substrato fantástico e de fonte renovável, que
não é o caso da maioria dos substratos existentes no
mercado", afirma Mayer.
O Projeto Coco Verde é
um dos únicos que desenvolvem a reciclagem do coco em
escala industrial; a maioria o faz apenas como artesanato,
sem uma estrutura empresarial. A empresa tem capacidade
de triturar cerca de 40 toneladas de coco verde diariamente.
Para a fabricação de um vaso tipo cuia de 3 litros,
por exemplo, são necessários nove cocos.
Para Mayer, a difusão e a utilização
efetiva da fibra de coco é apenas uma questão de tempo,
uma vez que a extração e a comercialização da samambaia-açu
tornarão-se inviáveis, tanto do ponto de vista ecológico
como econômico. Um coco verde demora, em média, de oito
a doze anos para se decompor completamente.
"Nosso consultor para testes,
o engenheiro agrônomo especialista em horticultura Antônio
Cosentino, comprovou a superioridade da fibra em relação
ao xaxim, que na verdade já deveria estar fora do mercado
nacional há muito tempo", diz Mayer.
O Ibama - Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
- já implantou um programa nacional, Programa Flora,
que tem como objetivo promover a conservação de espécies
nativas e garantir o seu uso racional. Dentro do programa
está o xaxim, "utilizado pela indústria para a fabricação
de vasos, placas e palitos-suportes para o cultivo de
plantas ornamentais. Segundo o programa, "o extrativismo
irracional e o desconhecimento sobre sua biologia tem
dificultado a elaboração de um plano de manejo sustentável".
Xaxim x Fibra de coco
Na prática, a substituição
do xaxim ainda levanta muitas discussões e divide opiniões
de paisagistas, floristas e profissionais do ramo. Muitos
desconhecem a resolução do Conama e cultivam livremente
a samambaia. O responsável pelo Projeto Coco Verde explica
que a questão gera polêmica às vezes por pura falta
de informação.
"É comprovada a maior resistência
da fibra do coco, mas as pessoas estão tão acostumadas
ao xaxim, que não querem nem tentar outra alternativa.
Os vasos e os produtos feitos de coco são mais versáteis,
possuem uma drenagem incomparável, não criam bolor ou
mofo, não atraem cupins e podem ser moldados em formatos
variados", defende Mayer.
No caso do xaxim, por ser esculpido,
tem-se a limitação de forma e tamanho; especialmente
nos últimos anos, época em que se extraiu a espécie
ainda na fase filhote, ou muito fina, essa limitação
tornou-se mais visível e balançou o mercado.
Mayer explica que a principal
diferença entre o xaxim e a fibra de coco está relacionada
ao número de regadas. Por ser bem mais absorvente, a
fibra deve ser molhada com maior freqüência. "Como conseqüência
da drenagem total, temos um controle de temperatura
do substrato que acelera o crescimento da planta e diminui
o tempo de cria das plantas em estufas, reduzindo assim
os custos dos produtores".
Custos e benefícios
A questão de preços também
contribui para que a utilização do xaxim continue em
todo o País. Por ser mais caro, o vaso de coco ainda
encontra uma certa resistência de produtores e floristas.
No entanto, Mayer garante que os benefícios não podem
ser exatamente calculados, já que em se tratando de
um produto "politicamente correto", fica difícil de
contabilizar os benefícios.
"É um produto que atende às
leis municipais de coleta de lixo e que está dentro
dos conceitos de reciclagem e de ecologia. Além disso,
é tecnicamente superior e respeita uma questão delicada
que é a preservação ambiental", diz. "Acredito que a
médio e longo prazo a fibra de coco verde ganhará espaço
no mercado. Afinal, trata-se de um novo produto, sem
similar, que ajuda no combate à extinção de uma samambaia
rara".
O projeto pretende alcançar
um mercado considerado exigente, como sítios, fazendas,
chácaras e lojas especializadas em produtos de jardinagem
e flores. Grande parte dos negócios são fechados através
de revendedores e para consumidores finais, as compras
podem ser feitas via internet.
Mayer explica que para chegar
aos produtores, será necessário muito trabalho de divulgação
e de conscientização ambiental. "É visível, entre os
produtores, a preocupação maior com custos de insumos
do que com qualidade e origem. Este é o grande problema,
porque ao mesmo tempo, supermercados continuam a vender
um produto proibido e mais barato", afirma.
Algumas lojas comercializam
tanto o vaso avulso como plantas em xaxim ou com palitos.
Isso, de acordo o responsável pelo projeto, desestimula
a demanda por um novo produto. "O mercado fica estagnado
e não há continuidade para o processo de reciclagem".
O fim da extração da samambaia-açu,
além de contribuir com a conservação da flora da Mata
Atlântica, daria vazão ao volume de lixo produzido pelo
coco verde, absurdamente grande. Só no Rio de Janeiro,
entre inverno e verão, são jogadas 420 toneladas de
lixo (coco verde sem água) em aterros sanitários.
"O projeto não depende da eliminação
do extrativismo do xaxim, mas os produtores de coco
começam a ter problemas com o lixo gerado. A descoberta
da fibra foi uma opção viável e benéfica, que pode ajudar
todos os lados e ainda gerar empregos".
(Clube do Fazendeiro)