0134 - Coletânea:
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"(..) De acordo com Philippe Jean Henri Mayer, responsável
pela gerência de projetos e negócios do Projeto Coco Verde, ainda
não se tem conhecimento de um plano de manejo sustentável que
garanta a conservação e a preservação da samambaia-açu. "O mais
curioso é que o xaxim, um ano após sua proibição, continua a ser
comercializado livremente, inclusive pela internet", conta.
(...)"
Clube do Fazendeiro - Seção Entrevistas
http://www.clubedofazendeiro.com.br
Fibra de coco é alternativa ecológica para
substituição do xaxim
O conhecido xaxim, apesar de ter sido proibido legalmente
no ano passado, ainda é largamente utilizado e continua a ser
comercializado em supermercados, floriculturas e lojas de
jardinagem. Muito usado por paisagistas, o xaxim, ou samambaia-açu
imperial, é encontrado na região da Mata Atlântica e cresce de 1 a 2
centímetros por ano, razão pela qual consta na lista das espécies
ameaçadas de extinção.
Em maio de 2001, uma resolução do Conama - Conselho Nacional
do Meio Ambiente - decretou a proibição expressa da extração e
qualquer tipo de exploração comercial da espécie em todo o
território nacional.
De acordo com Philippe Jean Henri Mayer, responsável pela
gerência de projetos e negócios do Projeto Coco Verde, ainda não se
tem conhecimento de um plano de manejo sustentável que garanta a
conservação e a preservação da samambaia-açu. "O mais curioso é que
o xaxim, um ano após sua proibição, continua a ser comercializado
livremente, inclusive pela internet", conta.
O Projeto Coco Verde, que propõe como "alternativa
ecologicamente correta" a substituição do xaxim pela fibra de coco,
pretende difundir o uso desta fibra em vasos, placas, estacas e
também na forma de substratos. "A idéia surgiu a partir da
reciclagem do coco verde; queríamos descobrir uma função para o
volume de lixo produzido e há três anos, o projeto faz pesquisas
sobre o uso do coco já sem a água como matéria-prima", explica
Mayer.
Reciclagem
A partir do processo de reciclagem do coco, tem-se a chamada
fibra, que é a parte que pode ser a substituta do xaxim. O processo
consiste, basicamente, no recolhimento, armazenagem, trituração,
secagem e separação da fibra da entrefibra.
"Depois disso, é feita uma classificação dessa fibra, que é
submetida a uma secagem especial e recebe a aplicação de vários
produtos naturais. São exatamente dezoito etapas para o trabalho da
fibra. No caso do pó de coco ou entrefibra, o produto passa por oito
etapas e o resultado é um substrato fantástico e de fonte renovável,
que não é o caso da maioria dos substratos existentes no mercado",
afirma Mayer.
O Projeto Coco Verde é um dos únicos que desenvolvem a
reciclagem do coco em escala industrial; a maioria o faz apenas como
artesanato, sem uma estrutura empresarial. A empresa tem capacidade
de triturar cerca de 40 toneladas de coco verde diariamente. Para a
fabricação de um vaso tipo cuia de 3 litros, por exemplo, são
necessários nove cocos.
Para Mayer, a difusão e a utilização efetiva da fibra de coco
é apenas uma questão de tempo, uma vez que a extração e a
comercialização da samambaia-açu tornarão-se inviáveis, tanto do
ponto de vista ecológico como econômico. Um coco verde demora, em
média, de oito a doze anos para se decompor completamente.
"Nosso consultor para testes, o engenheiro agrônomo
especialista em horticultura Antônio Cosentino, comprovou a
superioridade da fibra em relação ao xaxim, que na verdade já
deveria estar fora do mercado nacional há muito tempo", diz Mayer.
O Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - já implantou um programa nacional,
Programa Flora, que tem como objetivo promover a conservação de
espécies nativas e garantir o seu uso racional. Dentro do programa
está o xaxim, "utilizado pela indústria para a fabricação de vasos,
placas e palitos-suportes para o cultivo de plantas ornamentais.
Segundo o programa, "o extrativismo irracional e o desconhecimento
sobre sua biologia tem dificultado a elaboração de um plano de
manejo sustentável".
Xaxim x Fibra de coco
Na prática, a substituição do xaxim ainda levanta muitas
discussões e divide opiniões de paisagistas, floristas e
profissionais do ramo. Muitos desconhecem a resolução do Conama e
cultivam livremente a samambaia. O responsável pelo Projeto Coco
Verde explica que a questão gera polêmica às vezes por pura falta de
informação.
"É comprovada a maior resistência da fibra do coco, mas as
pessoas estão tão acostumadas ao xaxim, que não querem nem tentar
outra alternativa. Os vasos e os produtos feitos de coco são mais
versáteis, possuem uma drenagem incomparável, não criam bolor ou
mofo, não atraem cupins e podem ser moldados em formatos variados",
defende Mayer.
No caso do xaxim, por ser esculpido, tem-se a limitação de
forma e tamanho; especialmente nos últimos anos, época em que se
extraiu a espécie ainda na fase filhote, ou muito fina, essa
limitação tornou-se mais visível e balançou o mercado.
Mayer explica que a principal diferença entre o xaxim e a
fibra de coco está relacionada ao número de regadas. Por ser bem
mais absorvente, a fibra deve ser molhada com maior freqüência.
"Como conseqüência da drenagem total, temos um controle de
temperatura do substrato que acelera o crescimento da planta e
diminui o tempo de cria das plantas em estufas, reduzindo assim os
custos dos produtores".
Custos e benefícios
A questão de preços também contribui para que a utilização do
xaxim continue em todo o País. Por ser mais caro, o vaso de coco
ainda encontra uma certa resistência de produtores e floristas. No
entanto, Mayer garante que os benefícios não podem ser exatamente
calculados, já que em se tratando de um produto "politicamente
correto", fica difícil de contabilizar os benefícios.
"É um produto que atende às leis municipais de coleta de lixo
e que está dentro dos conceitos de reciclagem e de ecologia. Além
disso, é tecnicamente superior e respeita uma questão delicada que é
preservação ambiental", diz. "Acredito que a médio e longo prazo a
fibra de coco verde ganhará espaço no mercado. Afinal, trata-se de
um novo produto, sem similar, que ajuda no combate à extinção de uma
samambaia rara".
O projeto pretende alcançar um mercado considerado exigente,
como sítios, fazendas, chácaras e lojas especializadas em produtos
de jardinagem e flores. Grande parte dos negócios são fechados
através de revendedores e para consumidores finais, as compras podem
ser feitas via internet.
Mayer explica que para chegar aos produtores, será necessário
muito trabalho de divulgação e de conscientização ambiental. "É
visível, entre os produtores, a preocupação maior com custos de
insumos do que com qualidade e origem. Este é o grande problema,
porque ao mesmo tempo, supermercados continuam a vender um produto
proibido e mais barato", afirma.
Algumas lojas comercializam tanto o vaso avulso como plantas
em xaxim ou com palitos. Isso, de acordo o responsável pelo projeto,
desestimula a demanda por um novo produto. "O mercado fica estagnado
e não há continuidade para o processo de reciclagem".
O fim da extração da samambaia-açu, além de contribuir com a
conservação da flora da Mata Atlântica, daria vazão ao volume de
lixo produzido pelo coco verde, absurdamente grande. Só no Rio de
Janeiro, entre inverno e verão, são jogadas 420 toneladas de lixo
(coco verde sem água) em aterros sanitários.
"O projeto não depende da eliminação do extrativismo do
xaxim, mas os produtores de coco começam a ter problemas com o lixo
gerado. A descoberta da fibra foi uma opção viável e benéfica, que
pode ajudar todos os lados e ainda gerar empregos".
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